Sem as tuas garras
Sempre tão seguras
Sem o teu fantasma
Sem tua moldura
Sem tuas escoras
Sem o teu domínio
Sem tuas esporas
Sem o teu fascínio
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Já ter te esquecido
Ivan Lins / Vitor Martins
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Chico Buarque e Joe Darion
No senso comum quase sempre a temática da direção é pensada em termos empresariais. Vale o ponto de vista da empresa. Entra no conjunto das formas de controle dos empregados. O ponto de vista de classe é colocado como natural. Como se não houvesse história. Como se o ser social existisse desde sempre na distribuição pelas classes do capitalismo. Não se capta o desenho da sociedade de classes em seus conflitos e em sua dinamicidade. Tudo parece natural.
A direção assim é a conexão dos empregados aos negócios da empresa. Estabelece um contexto de apagamento da distinção entre trabalhadores e patrões. O conectado passa a colaborador. Reage como proprietário, quando não é. Compartilha as aspirações de uma classe social oponente. A manipulação transforma o que é social e histórico, em natural.
Esta orientação no interior das empresas impede o surgimento de trabalhadores com uma autoridade legitima nas respectivas categorias e classes sociais para colocar as lideranças sob o ponto de vista dos trabalhadores. “A situação política mundial no seu conjunto caracteriza-se ante de mais pela crise histórica da direção do proletariado.” TROTSKY, 1978, p. 21 Isto fica fora das consciências de quem trabalha. Não ganha forma nas consciências em geral.
O centro da questão é este: o surgimento de uma direção responde a que condições quando o problema é posto na visão dos trabalhadores enquanto classe social.
Os requisitos econômicos da revolução proletária atingiram já o mais elevado grau de maturidade que pode ser atingido sob o capitalismo. As forças produtivas da humanidade deixaram de crescer. As novas invenções e os novos progressos técnicos já não conduzem a um crescimento da riqueza material. TROTSKY, 1978, p. 21
O domínio da burguesia na economia, no Estado, na política configura as relações internacionais. Por todos os meios a situação pré-revolucionária da sociedade, onde houver, é negada. Os discursos repetem enfadonhamente a impossibilidade de mudanças onde realmente elas contam. Isto é sempre dito e repetido de maneira incansável.
As crises conjunturais, nas condições da crise social de todo o sistema capitalista, infligem às massas privações e sofrimentos sempre maiores. O crescimento do desemprego aprofundou, por sua vez, as crises financeiras do Estado e mina os sistemas monetários abalados. Os governos, tanto democráticos como fascistas, vacilam de uma bancarrota a outra. TROTSKY, 1978, p. 21
O que impede a transformação da situação pré-revolucionária em situação revolucionária, se ela é do interesse da maioria? Se interessa aos trabalhadores? Como explicar a cegueira? Por que seguir o caminho proposto pelo adversário e rejeitar as mudanças favoráveis aos trabalhadores? Por que a produção e a reprodução ininterruptas de ilusões paralisadoras? Por que a ausência de direções? Por que as direções contrárias à compreensão e atuação revolucionárias?
A agonia burguesa não se completa por contar com importantes aliados. Oportunismo é o primeiro nome desta prática. Covardia é o segundo. Traição é uma terceira designação para a direção dos trabalhadores em nome da classe proletária e exercida no interesse de patrões. Dos ingênuos aos espertalhões encastelados nas burocracias sindicais e afins, defensores da colaboração entre as classes e inventores de formas de manutenção da exploração dos trabalhadores.
Lideranças e direções conservadoras impedem o caminho da revolução. Montam solidamente aparelhos burocráticos conservadores – associações, sindicatos e centrais – com esta finalidade. Tornam-se governistas e patronais.
Os movimentos grevistas e reivindicatórios, as organizações internacionais dos trabalhadores, se transformam em frentes populares, diluindo as distinções e esvaziando as lutas.
De um lado, objetivamente, a deterioração do capitalismo; do outro, as liderança e as direções traiçoeiramente pelegas. Dois obstáculos consideráveis.
A própria burguesia não vê saída. Nos países onde se viu já obrigada a jogar a última cartada no fascismo, precipita-se agora de olhos fechados na catástrofe econômica e militar. Nos países historicamente privilegiados, quer dizer, aqueles onde pode ainda permitir-se, durante algum tempo, o luxo da democracia à custa da acumulação nacional (Grã Bretanha, França, Estados Unidos, etc.), todos os partidos tradicionais do capital se encontram numa situação de desordem que se aproxima, por momentos, da paralisia da vontade. TROTSKY, 1978, p. 21
A História vai pedir contas aos aparelhos burocráticos.
Sem revolução social, no próximo período histórico, toda a civilização humana está ameaçada de ser arrastada para uma catástrofe. Tudo depende do proletariado, e antes do mais, da sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária. TROTSKY, 1978, p. 21
No interior das relações socais e históricas a vontade revolucionária dos trabalhadores fermenta. A crise do capitalismo nasceu com ele. A denominada crise de direção do proletariado é a maior crise contemporânea. A organização dos trabalhadores em suas lideranças e em sua direção é a saída para a crise da civilização.
A barbárie ninguém quer. Ou a barbárie esconde a cara dela.
REFERÊNCIAS
TROTSKY, Leon. Programa de transição para a revolução socialista. 2. ed Lisboa: Antídoto, 1978.