Talvez seja muito curioso ao leitor ouvir falar de esperança nesse momento em que vivemos. Com certeza, os sentimentos que pairam no ar são de incerteza, medo e desesperança. Imagine então, falar de esperança na revolução! E mais, que revolução podemos pensar nesse momento?
Olhamos ao redor e nos deparamos com o rosto da irracionalidade fixo em nós, dizendo que vidas não são mais importantes do que a economia. E aí, temos certeza de que a esperança não existe, ela se foi junto com a chegada da barbárie. Mas é exatamente por todo esse cenário que podemos ter a mais profunda esperança de que um novo mundo seja possível.
Quando nos atentamos a teoria, aquela que se preocupa em explicar o funcionamento do mundo em que vivemos, sempre lemos sobre as contradições que existem na nossa sociedade e como elas são o motor propulsor das transformações. Assim, ficamos felizes, em teoria, sabendo que um dia, quem sabe, a revolução virá. Mas entre a teoria e a vida, existem diferenças. Ainda que a teoria busque “dar vida a matéria”. Encarar a contradição no papel e vivê-la na prática são coisas um tanto distintas.
Umas das características das crises é fazer com que essas contradições que lemos nos livros se escancarem e se tornem transparentes aos nossos olhos. E isso nos causa insegurança e talvez, até mesmo, uma vontade de desistir. Mas encará-la com firmeza e serenidade é a tarefa para o momento. E é essa certeza no futuro que nos transforma em revolucionários!
Sim, vivemos em um mundo no qual a produção e circulação de mercadorias é infinitamente mais importante que a vida de qualquer ser humano que ande por essa terra. E isso é assim todos os dias. A diferença para o momento atual é que esse problema está estampado nas capas dos jornais. Tem causado instabilidade política e chegado na porta das casas das pessoas. O problema real é que há muito construímos uma sociedade que privilegia a coisa, a mercadoria, o dinheiro e não a vida, a necessidade e o bem-estar humano. Talvez para meia dúzia de pessoas no mundo.
Quando falamos de revolução invariavelmente nos remetemos a Marx. O grande revolucionário alemão que abriu mão de tudo porque tinha certeza que uma revolução socialista era possível, mas não só, era a única saída. Muitos o encaram apenas como economista, que desvendou as leis do capitalismo e com algumas fórmulas demonstrou as contradições presentes nele. Mas a teoria de Marx não é uma teoria sobre coisas ou fórmulas ou leis gerais da sociedade. A teoria de Marx é sobre pessoas. E nada mais importante do que falar sobre pessoas em um momento como o que vivemos.
A teoria socialista de Marx, na verdade, é sobre esperança. É sobre a busca da felicidade. É uma teoria criada a partir da certeza de que não é possível viver em um mundo no qual as pessoas precisam escolher entre morrer de uma doença ou morrer de fome. Cada linha escrita, cada página revisada foi feita pensando em encontrar uma alternativa para se romper com o ciclo de miséria, fome e humilhação aos quais o trabalhador é submetido. Pedimos licença ao leitor para citar um trecho de uma carta da filha de Marx, Eleanor, que diz sobre a teoria de seu pai:
“É curioso mas acredito que muita gente não compreende o quanto a noção de felicidade é importante para os socialistas, como ela está no coração mesmo do pensamento de Marx. É ela, afinal, o grande objetivo final de nossa luta, a felicidade – não como simples busca do prazer individual – mas como autorrealização do ser humano. O direito que cada indivíduo tem de poder expressar e realizar suas capacidades, realizar-se, colocando sua humanidade no que faz, seja o que for: um objetivo, uma lavoura, uma obra de arte. Que todos possam ser felizes, efetivando suas capacidades e fazendo parte de uma coletividade, um grupo que os reconhece como seus. Muitas pessoas nem sempre associam o “livre desenvolvimento de cada um como condição para o livre desenvolvimento de todos” à noção de felicidade do indivíduo. Não entendem que esse “livre desenvolvimento” de cada um é, justamente, a condição para que se possa ser feliz. Ou pensam que isso é coisa do futuro e deve ser deixada para o futuro. Não se dão conta de que ser feliz é algo para ser buscado no presente; que não deve ser uma utopia, mas algo necessário, agora, algo para ser tentado desde já, algo que nos faz melhores como pessoas e, portanto, mais capazes de enfrentar a longa luta. Não creio que seja um exagero quando penso que a beleza da vida, a alegria de viver é o que deve nos guiar e é o que nos pode dar alguma força. Que a revolução significa não apenas a busca da vida e da liberdade, mas a busca da felicidade.”
E é em momentos como estes que estamos vivendo agora, que cada linha dessa carta faz mais sentido. Não existe plano econômico que possa resolver a vida das milhões de pessoas mundo afora que, ao mesmo tempo, resolva o problema dos bancos e das multinacionais. Essa sociedade em que vivemos não garante o bem-estar, a felicidade do conjunto da população. Devemos nós construir o caminho para chegarmos lá. E é por isso que a esperança é nosso combustível no momento. A irracionalidade não prevalecerá, pois as pessoas, os trabalhadores, reagirão. Não é possível viver muito tempo em péssimas condições e ainda perdendo entes queridos. O levante virá. E com ele a possibilidade de construirmos um mundo no qual a vida valha mais do que a mercadoria.
A atual geração não viveu uma crise global como a que nos deparamos agora. Nós não vivemos uma catástrofe global com as proporções de uma guerra. E nem encaramos os desdobramentos desses processos. Mas, com certeza, estará a altura de ser herdeira de um legado deixado por homens e mulheres do passado, que doaram suas vidas por acreditarem que era possível construir uma sociedade na qual possamos ser plenos e felizes.
Podem nos chamados de utópicos. Podem nos dizer que o socialismo não deu certo. Só podemos dizer a essas pessoas: vocês ainda não entenderam! O capitalismo não garante o futuro da humanidade. E ouvimos isso gritando aos nossos ouvidos nesse momento.
Vamos construir um novo mundo, não por simples desejo, mas por não querermos mais ver nenhum dos nossos se ir.
Terminamos o texto com o fim do discurso de Trotsky no enterro do Joffe, que era membro da Oposição de Esquerda na URSS, que luta contra as traições do stalinismo a Revolução de Outubro: “Ergueremos bem alto a bandeira Leninista da revolução proletária do mundo e levá-la-emos até junto do comunismo mundial. Viva o partido comunista revolucionário”.