Passados mais de 25 anos do desmoronamento da União Soviética, quando o marxismo foi tomado por muitos como cachorro morto e o horizonte democrático burguês se apresentou como a única saída, a humanidade naufraga, uma vez mais, em uma profunda crise. Crise esta que não é apenas local, conjuntural ou episódica, não é apenas econômica, mas perpassa todos os poros da sociedade da cabeça aos pés. As contradições, agora, se expressam por todos os lados. Se nos países periféricos se desmorona a ilusão desenvolvimentista, de um futuro de prosperidade sob a base da indústria moderna, de um capitalismo humanizado; nos países imperialistas, da Europa aos Estados Unidos, assistimos ao paulatino fim do estado de bem estar social e o crescimento da opressão dos migrantes em doses cada vez mais alargadas, que se deslocam em busca de uma saída individual.
No entanto, se a promessa liberal da universalização da democracia, dos direitos universais do homem, da dignidade da pessoa humana assentados sob os desígnios do livre mercado e de uma justiça abstrata naufraga; o mesmo ocorre com as propostas predominantes das esquerdas nessas últimas décadas. Todos governos que procuraram domar o capital e explorar as supostas vias alternativas para minar as desigualdades e injustiças, ou seja, os diversos reformismos ou os assim chamados governos de esquerda, hoje agonizam impotentes diante das tarefas e desafios colocados, como atesta o caso de petismo no Brasil, do chavismo na Venezuela e do Syriza na Grécia.
Apesar desse cenário, acreditamos que a etapa inaugurada após os assim chamados processos do Leste abriu, ao mesmo tempo, perspectivas absolutamente inéditas. Durante o período stalinista, a teoria marxista foi submetida a uma distorção e esquematismo profundos. E, o que é pior, a supressão de seu conteúdo revolucionário, já que nesse período passou a ser mesclada com aspectos que lhes são estranhos, lhes são incompatíveis tais como a teoria do socialismo em um só país e a teoria dos campos burgueses progressistas. Uma e outra voltadas para a manutenção da burocracia stalinista, aquém de qualquer projeto revolucionário minimamente consequente. Não estamos falando de um processo qualquer, afinal, gozando do prestígio da Revolução de 1917, cujo poder usurpara burocraticamente em meados dos anos de 1920, e, objetivamente, de posse do aparato que controlava uma das principais economias de então, o stalinismo e suas correias de transmissão, os PC´s, foram os agentes internos do movimento operário no bloqueio de um sem-número de processos revolucionários. Ora, do ponto de vista do desenvolvimento do seu patrimônio teórico, toda uma geração de marxistas foi fisicamente exterminada. O fio de continuidade histórica que se faz por pessoas, e cujos livros são meros meios, foi abruptamente interrompido. Pensamos que, agora, está dada uma oportunidade única para os revolucionários: resgatar o legado da tradição marxista e fazer dele, como diria Rosdolsky: “uma fonte viva de conhecimento e da prática que se guia por ela.”
É nesse sentido que o blog Teoria & Revolução surge como um espaço destinado a difundir, analisar e debater a teoria marxista e seu conteúdo inerentemente revolucionário e não meramente “progressista”, “de esquerda” em suas acepções genéricas e abstratas. Diante das idas e vidas das últimas décadas, acreditamos ser essencial trazer a tona os diversos aspectos que nortearam o melhor da teoria revolucionária dos últimos 150 anos, a começar pelos clássicos como Marx, Lênin e Trotsky, materializadas na revolução de outubro de 1917 na Rússia, que nesse preciso ano completa 100 anos. Cientes de que é necessário examinar e reexaminar os novos fenômenos que a cada dia irrompem, apontamos igualmente para a necessidade de não esquecermos as lições que um passado, ao mesmo tempo heróico e trágico, nos legou.
Nesse sentido, o presente blog surge como uma ferramenta destinada a publicação de artigos ou ensaios teóricos voltados ao exame, crítica e desenvolvimentos dos mais diversos aspectos da tradição marxista revolucionária, isto é, uma tradição que procura, e sempre procurou, se ligar ao movimento operário na busca pela destruição do sistema capitalista a nível mundial. Tarefa essa posta, acreditamos, não para um futuro indeterminado, em uma outra época ou etapa história, mas uma necessidade imposta pela barbárie capitalista que hoje vivenciamos e, por isso, não nos permite mais esperar. O mundo clama, mas do que nunca, por uma Revolução. Esperamos que esse espaço possa contribuir, nos limites de um blog destinado a ensaios teóricos, para esse projeto.
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